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Você é uma fraude?


Sabe aquela sensação de que as coisas que você faz ou cria são uma fraude? Que no fundo você está se enganando ou mesmo enganando as pessoas? Isso tem nome: é a Síndrome do impostor. Essa síndrome não é uma doença, mas, sim, um estado mental que pode acometer qualquer pessoa e até crianças. Nos artistas e pessoas criativas, quando ela está presente, pode prejudicar muito a performance e a vida profissional. Os pensamentos duvidosos sobre a capacidade pessoal geram receios, procrastinações e até bloqueios criativos.

Eu mesma enfrento essa síndrome todos os dias e isso já me prejudicou muito ao longo da minha vida. Lembro-me de inúmeras vezes que deixei de aplicar para algum edital ou mesmo mostrar o meu trabalho para alguém importante do mundo das artes que poderia me ajudar na carreira, por pura vergonha e sensação de que meu trabalho não era bom o suficiente. Claro que a gente precisa ter senso do ridículo (...hehehe). Porém, não era sempre o caso. Somente depois da oportunidade perdida é que percebia que foi o medo de ser vista como uma fraude que me boicotava. Bom, mas é enfrentando essa síndrome e não deixando ela me paralisar que tenho superado esses sentimentos. Minha intensão ao escrever esse texto é partilhar aqui com você algumas das estratégias que eu usei e ainda uso para enfrentar essa famigerada síndrome do impostor.


1. O primeiro passo foi reconhecer esse comportamento sabotador e estudar a síndrome do impostor para tentar separar o que era senso crítico de autodepreciação. É impossível mudar algo em nós sem primeiramente enxergar nossas atitudes e ideias. Uma boa atitude é procurar ajuda de profissionais de saúde especializados para fazer um diagnóstico e iniciar uma terapia. Fazer terapia sempre foi algo que ajudou muito ao longo da vida. Assim como ler e estudar sobre comportamentos e a mente humana.


2. O segundo passo foi a aceitação dos sentimentos sabotadores e encará-los com assertividade. Entender que é algo cíclico e normal. Nem sempre somos confiantes e a desconfiança tem seu lado preventivo. Porém, para mim, o mantra “tá com medo, vai com o medo mesmo” sempre funcionou. Desde jovem eu dizia para mim mesma _Anna, você é a pessoa medrosa mais corajosa que eu conheço, então, vá com fé.

Quebrar a cara e fracassar não são motivos de vergonha, mas oportunidades de crescimento e aprendizado. A forma como encaramos nossos sentimentos é a diferença no caminho de superação das ideias limitantes e sensação de fraude. Outro aspecto é saber que volta e meia esses sentimentos voltam a nos rondar, especialmente em situações de mudanças e novos desafios. E “tá tudo bem”, respira fundo, siga não permitindo que isso seja maior que você e seus desejos de sucesso e crescimento. Aos poucos, esses pensamentos negativos vão perdendo a força e se tornando mais contornáveis.


3. Essa atitude me levou ao terceiro passo que é buscar ser realista e aceitar que o perfeccionismo mais atrapalha do que ajuda, afinal, ninguém é perfeito. Aliás, as “imperfeições” muitas vezes são aquilo que caracterizam a autoria e dão personalidade à nossa criação ou trabalho artístico.

Claro que é preciso dar o melhor, mas isso não significa criar metas e objetivos irreais. Tudo é processo, engajamento, dedicação, paciência e crescimento. É preciso estar em movimento.

Evite os objetivos irrealistas e encare o trabalho constante e consistente como o caminho para os bons resultados, ainda que estes possam não ser perfeitos. Observe e crie formas de mensurar os seus progressos. Arquive ou registre suas produções para ir vendo os “antes e depois” de tempos em tempos. Isso é algo que eu faço e me ajuda muito. Isso traz bem-estar, porque nada melhor do que observar o nosso progresso.


4. Mas aqui surge o quarto passo, um dos passos difíceis na minha experiência, que é não ficar fazendo comparações o tempo todo. É preciso dizer a mim mesma sempre que “eu devo ser a minha medida” e que os outros possuem suas próprias trajetórias. Ver que esses “outros” podem ser parâmetros, mas não a verdade sobre as coisas. É importante superar aquela velha expressão “a grama do vizinho é melhor que a sua” e que se a sua não for igual ou melhor, ela não é boa o suficiente para ser reconhecida.

Esse tipo de armadilha nos leva a grandes enganos no processo de criação, porque favorece o distanciamento da nossa essência criativa e artística para irmos em busca de um “ideal” que, aí sim, pode nos tornar uma versão “fake”. Esse é o ponto crucial que nos leva ao simulacro e alimenta ainda mais a síndrome do impostor.

Infelizmente, nós fomos educados e expostos desde a infância à comparação e competição, especialmente nos ambientes familiares e educacionais. Não é tão simples ou fácil superar essa atitude mental. Assim sendo, tome muito cuidado com as comparações.


5. Assim, surgiu o quinto passo que foi fundamental no meu processo de aprendizagem: ter coragem de falar sobre esses sentimentos de menos valia. Quando se verbaliza os medos seja com um amigo, familiar ou mesmo com um profissional de saúde, a pessoa aprende a se ouvir e se enxergar melhor. A mente é uma caixa onde podemos facilmente nos esconder de nós mesmos. Mas, ao externarmos os pensamentos, jogamos luzes e não há como camuflar. Fazendo isso, aos poucos, fui aprendendo a aliviar angústias e discernir as fantasias da realidade.

Concorda que também é assim na criatividade e na arte? É preciso materializar, colocar para fora as ideias, para se desenvolver profissionalmente e fortalecer a nossa expressão através do embate entre o mundo ideal e o real.


6. E, se mesmo com tudo isso ainda é difícil superar a síndrome do impostor, eu vou deixar aqui uma dica preciosa que é o sexto passo: Faça uma lista sobre suas conquistas. Ao listarmos nossos feitos podemos, sempre que necessário, recordar os momentos de sucesso e superação. Isso ajuda na autoestima e compreensão de somos mais capazes do que supomos. E todo mundo tem um momento de superação, conquista ou mesmo de realização. Não deixe de registrar. Eu tenho um grupo comigo mesma no WhatsApp que, sempre que eu faço uma arte de que me orgulho ou sou reconhecida por algum trabalho, salvo nesse grupo. Parece uma dica bobinha, mas eu garanto que não é.


7. Por fim, o último passo, é o melhor e mais satisfatório: celebre seus feitos. E não apenas os grandes, celebre os pequenos, os do dia a dia. Comemore cada desenho, cada pintura, cada composição, criação, seja o que for... celebre. Sinta gratidão pela sua capacidade de criar e ter a sensibilidade de transformar as suas percepções em expressões estéticas. Uma vez li em um texto de Chico Xavier pelo autor Emmanuel que “o artista verdadeiro é sempre o médium das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas vibráteis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o infinito”. São palavras inspiradoras que nos mostram que, mesmo que não acreditemos em nosso potencial, aquilo que fazemos é nobre e tem o seu lugar no mundo.

Em todos os meus 30 anos como professora de arte, uma das ações que busquei me dedicar foi ensinar os meus alunos admirarem a arte e, sobretudo, admirarem aquilo que eles eram capazes de produzir. Porque foi e ainda é assim que sou capaz, mesmo me sentindo uma fraude, de seguir produzindo e expondo a minha arte. Minhas produções não ficam mais em gavetas empoeiradas. Por eu ter a coragem de enfrentar o medo de ser uma impostora, minha arte está na internet, em paredes de casas e até Museus de arte.

Duvidar de nós mesmos pode ser paralisante, mas saber reconhecer e lidar com esses sentimentos pode ajudar a conseguir quebrar o ciclo da síndrome do impostor.


Concluindo, a síndrome do impostor pode prejudicar a nossa capacidade de crescimento, impedindo que busquemos novas oportunidades profissionais, nas relações e até nas atividades de lazer. É importante ter em consideração que erros todos podemos cometer, aceitar que a imperfeição faz parte da vida e olhar isso com realismo sem fantasias nos permite ultrapassar o medo de falhar e seguir para sermos bem-sucedidos na vida pessoal e profissional.

Eu espero que esses passos possam ajudar você, assim como me ajudaram mudar a minha forma de encarar o meu trabalho e evitar as sabotagens constantes da síndrome do impostor. Deixe nos comentários se você também vive às voltas com essa síndrome.

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